Cinturão de Kuiper: a fronteira do sistema solar

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No dia 7 de dezembro de 2025, celebramos o 120.º aniversário de nascimento de Gerard Kuiper, o astrônomo que deu nome ao Cinturão de Kuiper. Ironicamente, Kuiper acreditava que essa região já não existia — mas hoje ela é reconhecida como uma das áreas mais intrigantes do Sistema Solar. Saiba mais sobre essa região distante e os mistérios que ela pode ocultar. Embora você não possa ver os objetos do Cinturão de Kuiper a olho nu, ainda é possível acompanhar alguns deles, como Éris ou Haumea — use o app Sky Tonight para descobrir instantaneamente sua posição atual no céu.

Índice

O que é o Cinturão de Kuiper?

Kuiper Belt
O Cinturão de Kuiper fica além de Netuno e contém inúmeros pequenos objetos gelados que orbitam o Sol.

O Cinturão de Kuiper é uma região em forma de disco que se encontra no Sistema Solar para além da órbita de Netuno. Estende-se aproximadamente de 30 a 55 unidades astronômicas do Sol. O Cinturão de Kuiper contém milhões de corpos gelados que se acredita serem detritos da formação do Sistema Solar. Apesar do tamanho imenso do cinturão, a massa total de todos os seus objetos equivale a apenas alguns por cento da massa da Terra (aproximadamente entre 1 e 10%, segundo as estimativas atuais).

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Quem descobriu o Cinturão de Kuiper?

O Cinturão de Kuiper também é conhecido como Cinturão de Kuiper-Edgeworth, em homenagem aos astrônomos Gerard Kuiper e Kenneth Edgeworth. Nenhum dos dois descobriu essa região, mas ambos previram de forma independente sua existência décadas antes de ser observada.

As ideias sobre o disco de objetos congelados para além de Netuno remontam à primeira metade do século XX. Desde a descoberta de Plutão em 1930, os cientistas especulavam a existência de outros corpos celestiais nas proximidades. Em 1943, o astrônomo irlandês Kenneth Edgeworth sugeriu que a região externa do Sistema Solar fosse ocupada por um grande número de corpos relativamente pequenos. Essa foi sua única contribuição para a descoberta do Cinturão de Kuiper. Depois, em 1951, o astrônomo holandês Gerard Kuiper formulou uma hipótese semelhante sobre um cinturão de objetos pequenos para além de Netuno. Mas aqui vai um fato curioso: Kuiper pensou que o cinturão não existia mais. Acreditava-se que a influência gravitacional dos planetas externos (incluindo Plutão) tivesse espalhado os objetos do cinturão em direção à Nuvem de Oort. Então, ironicamente, Gerard Kuiper propôs a ausência do Cinturão de Kuiper, não a sua existência.

Especulações sobre a região hipotética continuaram por décadas. Foi só em 1992, após cinco anos de busca, que os astrônomos David Jewitt e Jane Luu finalmente descobriram o primeiro objeto no Cinturão de Kuiper — 1992 QB1 (mais tarde denominado 15760 Albion). Seis meses depois, encontraram o segundo objeto — 1993 FW. Então a região não deveria ter sido chamada de Cinturão de Jewitt-Luu? Pelo menos esses dois astrônomos acreditaram na existência do cinturão.

Por que o Cinturão de Kuiper tem o nome de Gerard Kuiper?

A região recebeu o nome de Gerard Kuiper não porque ele a tenha descoberto, mas porque suas ideias moldaram nossa compreensão do Sistema Solar exterior. Embora acreditasse que os corpos gelados além de Netuno já tivessem sido dispersos, seus primeiros insights abriram caminho para a descoberta posterior do Cinturão de Kuiper. Além desse trabalho teórico, Kuiper fez contribuições fundamentais para a ciência planetária. Ele descobriu duas luas (Miranda de Urano e Nereida de Netuno), ajudou a escolher locais de pouso para as missões de alunissagem da NASA e desempenhou um papel essencial na compreensão da composição e evolução dos planetas e de suas luas. Graças a essas conquistas, Kuiper é frequentemente chamado de “pai da ciência planetária moderna”. Com um legado tão marcante, não é surpresa que uma das regiões mais fascinantes do nosso bairro cósmico leve seu nome.

Como se formou o Cinturão de Kuiper?

Aproximadamente 4,6 bilhões de anos atrás, o Sistema Solar formou-se a partir de uma nuvem de gás e poeira chamada nebulosa solar. A maior parte do material da nebulosa fundiu-se para formar o Sol e os planetas, enquanto uma parte dela permaneceu na forma de pequenos corpos celestes.

Os objetos no Cinturão de Kuiper são os tais detritos da formação do Sistema Solar. Parecido com o cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, o Cinturão de Kuiper poderia ter se tornado um planeta não fosse a presença de um outro planeta gigante nos arredores. A imensa gravidade de Netuno agitou tanto a região que pequenos fragmentos de rocha e gelo não conseguiram mais se fundir para formar um corpo do tamanho de um planeta.

Objetos no Cinturão de Kuiper

Os corpos celestes que ocupam o Cinturão de Kuiper são chamados objetos do Cinturão de Kuiper (KBOs) ou objetos transnetunianos (TNOs). De acordo com a NASA, os astrônomos conhecem atualmente mais de 2.000 KBOs.

Diferentemente dos asteroides no principal cinturão de asteroides compostos sobretudo por pedra e metal, a maioria das KBOs são corpos compostos por metano, amônia e água congelados. Eles também podem exibir uma ampla variedade de cores — vermelho, azul, branco.

Os astrônomos dividem os objetos do Cinturão de Kuiper em vários grupos: clássicos (com órbitas quase circulares), ressonantes (presos em ressonâncias orbitais com Netuno, como Plutão) e dispersos, com órbitas muito alongadas que se estendem por centenas de UA.

Kuiper Belt objects
Quão grandes são os mundos além de Netuno? Aqui estão Plutão, Éris, Makemake e Haumea — alguns dos maiores objetos do Cinturão de Kuiper — comparados com a nossa Lua.

O tamanho dos KBOs varia de pedras grandes a mais de 2.300 km de diâmetro. Os maiores KBOs são quatro planetas anões: Plutão (2.376 km), Éris (2.326 km), Makemake (1.430 km) e Haumea (1.632 km). O Cinturão de Kuiper também contém vários candidatos a planeta anão — entre eles estão Orco, Quaoar, Gonggong e Sedna.

Os quatro planetas anões mais Gongong e Quaoar têm luas em suas órbitas. Haumea tem até um anel! Além disso, o Cinturão de Kuiper contém muitos binários — dois objetos que orbitam ao redor do centro de massa comum. O exemplo mais conhecido de um KBO binário é a dupla Plutão-Caronte.

O Cinturão de Kuiper também é considerado uma fonte de cometas. Alguns objetos existentes no Cinturão de Kuiper podem ser perturbados gravitacionalmente por Netuno e enviados em direção ao Sol, onde se transformam em cometas de curto período. Diferentemente da Nuvem de Oort, onde se originam cometas de longo período, o Cinturão de Kuiper produz cometas de curto período, que levam menos de 200 anos para orbitar o Sol.

O Cinturão de Kuiper e o Planeta Nove

O estudo dos objetos do Cinturão de Kuiper levaram a novas hipóteses interessantes. Os astrônomos Konstantin Batygin e Mike Brown observaram vários KBOs e perceberam um agrupamento peculiar de suas órbitas. Em 2016, os cientistas apresentaram sua teoria: as órbitas peculiares dos objetos poderiam ser explicadas pela influência gravitacional de um planeta desconhecido localizado muito além de Plutão! O planeta hipotético do tamanho de Netuno foi apelidado de Planeta Nove. A sua massa poderia ser de cinco a dez vezes maior que a da Terra e ter um período orbital de 10.000 anos terrestres. O misterioso planeta ainda não foi descoberto, mas os astrônomos não desistem e continuam sua busca.

Qual espaçonave visitou o Cinturão de Kuiper?

New Horizons
A sonda New Horizons foi a primeira a sobrevoar Plutão e registrar imagens detalhadas.

A única sonda espacial que estudou os objetos do Cinturão de Kuiper de perto foi a New Horizons da NASA. Ela foi lançada em 2006 e chegou em Plutão em 2015. Em 1º de janeiro de 2019, a sonda New Horizons se aproximou de outro objeto do Cinturão de Kuiper chamado Arrokoth, que se tornou o corpo mais distante do Sistema Solar já visitado por uma espaçonave. Atualmente, a equipe da missão está tentando encontrar um objeto apropriado para a New Horizons se aproximar.

Arrokoth
Arrokoth tornou-se o objeto mais distante do Sistema Solar visitado por uma espaçonave quando a New Horizons realizou um sobrevoo em 1º de janeiro de 2019.

Infelizmente, não há outras missões programadas para o Cinturão de Kuiper neste momento. No entanto, cientistas têm considerado a possibilidade de enviar sondas para outros KBOs como Makemake e Haumea no futuro.

Perguntas frequentes (FAQs)

Qual é o maior objeto no Cinturão de Kuiper?

O maior objeto no Cinturão de Kuiper é o planeta anão Plutão, com 2.376 km de diâmetro. Ele é seguido por um outro planeta anão, Éris, com 2.326 km de diâmetro.

Quantos planetas encontram-se no Cinturão de Kuiper?

Devido à influência gravitacional de Netuno, não há planetas no Cinturão de Kuiper. Entretanto, o cinturão contém quatro dos cinco planetas anões reconhecidos oficialmente: Plutão, Éris, Makemake e Haumea. O quinto planeta anão — Ceres — encontra-se no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter.

Quanto tempo precisaria para chegar ao Cinturão de Kuiper?

A New Horizons da NASA — única espaçonave que visitou o Cinturão de Kuiper — levou nove anos e meio para chegar em Plutão. A sonda espacial movia-se a uma velocidade de 58.580 km/h e viajou uma distância de aproximadamente 5 bilhões de quilômetros. É importante notar que no momento do seu lançamento em 2006, a New Horizons era a espaçonave mais rápida já construída até então.

Qual é a diferença entre a Nuvem de Oort e o Cinturão de Kuiper?

Assim como o Cinturão de Kuiper, acredita-se que a Nuvem de Oort contenha trilhões de pequenos objetos gelados, de acordo com modelos teóricos e estatísticas de cometas. Ao longo de bilhões de anos, alguns objetos dispersos do Cinturão de Kuiper podem ter sido ejetados muito mais longe do Sol, povoando a distante Nuvem de Oort. Entretanto, é uma região muito mais distante do que o Cinturão de Kuiper — uma espaçonave levaria cerca de 300 anos para chegar à sua fronteira interna. Além disso, não é um disco, mas uma concha esférica gigante que circunda todo o Sistema Solar, inclusive o Cinturão de Kuiper. A Nuvem de Oort pode conter trilhões de objetos e acredita-se que seja uma fonte de cometas de longo período.

O que é o Cinturão de Kuiper: resumo

O Cinturão de Kuiper é um vasto anel de pequenos corpos gelados além da órbita de Netuno. É o lar de Plutão e de vários outros planetas anões. Curiosamente, o cinturão recebeu o nome de uma pessoa que previu sua ausência. O estudo dos objetos do Cinturão de Kuiper não apenas levou à hipótese do Planeta Nove, mas continua a transformar nossa compreensão sobre como o Sistema Solar externo se formou. Futuros observatórios, como o Telescópio Vera Rubin, podem revelar em breve milhares de novos mundos ocultos. Enquanto os astrônomos buscam novos objetos distantes, você pode explorar os já conhecidos com o Sky Tonight — um app de observação do céu que permite encontrar objetos espaciais acima de você.

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